quinta-feira, 27 de agosto de 2015

o rio como aliado da cidade nascente (1599-1614)

4Dentre as várias características morfológicas do sítio urbano inicial de Natal, comuns a diversos núcleos urbanos fundados por portugueses na América portuguesa e em outras partes, está a proximidade do seu sítio com uma fonte de água. Assim, Natal foi fundada em 1599 às margens do rio inicialmente chamado Grande, mas desde cedo também de Potigi, o atual Potengi. A cidade é, pois, como tantas outras cidades de colonização portuguesa, fruto de um curso d’água. Não há registros documentais explícitos sobre os motivos da escolha do sítio no qual surgiria a cidade. Contudo, não é difícil conjecturar que a proximidade com o Rio Grande fosse um deles: o rio poderia fornecer a tão essencial água para o consumo dos habitantes da cidade, mas também para os animais, bem como servir para os moinhos e engenhos; poderia ser fonte de alimentos, principalmente por meio da pesca; poderia servir como meio de penetração no território, em seu trecho navegável. Essas razões, que não são privilégio de Natal, estão entre as que justificaram plenamente a escolha do sítio urbano também dessa cidade nas proximidades de um rio.
5A importância de tal proximidade pode ser atestada de diversas maneiras. Primeiramente, pela localização da Fortaleza dos Reis Magos, construção iniciada em 6 de janeiro de 1598, pouco mais de um ano antes da fundação de Natal. Essa edificação militar, fundamental no processo de conquista da capitania, se situava, não por acaso, na foz do Rio Grande, entre rio e mar. A Fortaleza, ao mesmo tempo em que servia de sentinela ao longo da costa atlântica, impedia a entrada de intrusos rio adentro.
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6Desde a primeira metade do século XVI, têm-se notícias de naus francesas na costa potiguar, inclusive adentrando o Rio Grande3. Na descrição que Frei Vicente do Salvador fez, em 1627, do processo de conquista do Rio Grande no final do século anterior, ele também destaca a presença dos franceses na região4. De fato, naqueles tempos, era preocupante e incômoda essa presença francesa para a União Ibérica – Portugal e Espanha5. É nesse contexto que a fundação de uma Fortaleza e de uma cidade às margens do Rio Grande se torna essencial para os interesses coloniais portugueses e espanhóis, uma vez que, naquele momento, as duas coroas estavam reunidas numa só (1580-1640). Gabriel Soares de Souza, em seu tratado descritivo do Brasil de 1587, ao acusar a presença francesa rio adentro, indiretamente nos ajuda a entender por que a Fortaleza foi construída na sua foz. O mesmo relato também já apontava o potencial de exploração econômica do estuário do Rio Grande:


Rubenilson B. Teixeira

Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN (graduação e pós-graduação), 
 rubenilson.teixeira@gmail.com

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