O Rio perdeu atletas olímpicos pela falta de locais apropriados para
treinar. Esta é a avaliação de entidades esportivas fluminenses, nesta
quarta-feira (5), a um ano para as Olimpíadas Rio 2016. Eles criticam as
autoridades por não terem investido em equipamentos para atletas no
estado. Somente na capital, três locais de competição e treinamento
foram demolidos, desde que a cidade foi anunciada sede do evento.
Construído para os Jogos Panamericanos de 2007 por R$ 14 milhões na
época, o Velódromo Municipal, na Barra, zona oeste, foi demolido em
2012, por estar fora das normas internacionais. Um mês depois, o vizinho
Autódromo, que também servia como local de treinamento de atletas
olímpicos, foi derrubado para a criação do Parque Olímpico. O Parque
Aquático Júlio Delamare e o Estádio de Atletismo Célio de Barros, anexos
ao Maracaná, zona norte, foram interditados em 2013 pelo governo
estadual. O Célio de Barros acabou demolido e hoje serve de estacionamento para os dias de jogos no Maracanã. A previsão é que seja reconstruído depois dos Jogos Olímpicos.
A coordenadora técnica de atletismo do Vasco, Solange Chagas do
Valle, explicou que praticamente todos os atletas de alto rendimento
deixaram o Rio. Quem ficou teve como únicas opções as instalações
cedidas pela Aeronáutica, zona norte, e o Estádio Olímpico Nilton
Santos, Engenhão, zona oeste. As duas instalações não suprem a demanda
do estado.
“É lamentável que na cidade sede das Olimpíadas estejam destruindo em
vez de construir pistas. Estamos sem local para treinar e competir. A
situação é caótica. Nossos atletas estão em desvantagem em relação aos
atletas de outros estados e países. Sempre fomos um celeiro de atletas,
sobretudo de velocidade. Os melhores já migraram, alguns até abandonaram
o esporte,” lamentou ela. “Em qualquer Olimpíada, constroem-se pistas
para atender delegações estrangeiras, aqui não temos nem para a
nacional”.
Para piorar a situação dos atletas, o Engenhão foi interditado, em
meados de junho, pela Prefeitura, por não estar adequado aos parâmetros
internacionais. Com isso, mais de 100 atletas ficaram sem local de
treino. Obras estão sendo realizadas para permitir que o estádio receba
as disputas de atletismo e futebol na Olimpíada de 2016 no Rio de
Janeiro.
O presidente da Federação de Atletismo do Rio de Janeiro (Farj),
Carlos Alberto Lancetta, informou que dos mais de 4 mil atletas do
atletismo que virão competir na capital fluminense, metade não terá
local para treinar. “Algumas seleções estrangeiras vão se hospedar em
outros estados. Em Minas Gerais, vão ficar pelo menos três seleções de
atletismo. A seleção americana, que é a melhor do mundo, vai ficar em
Miami e só virá ao Rio dois dias antes da competição, pois não
encontraram aqui local que atendesse às suas necessidades”.
Levantamento feito pela Farj no ano passado aponta que o Rio de
Janeiro terá menos de 8% da estrutura esportiva de Londres, na
Inglaterra. “A necessidade é que se tenha pelo menos seis pistas de
atletismo na cidade sede dos jogos. Nas Olimpíadas passadas, havia pelo
menos dez pistas no entorno de Londres. A seleção do Brasil tinha uma
pista excepcional lá”, lembrou.
“O treinamento é sempre interrompido. Nos foi cedido o Engenhão, por
conta da interdição do Célio de Barros, de repente, tivemos de parar de
treinar no Engenhão. Estamos cada vez mais sufocados com a possibilidade
de soluções”, disse Lancetta, que lamentou ainda que todas as 21 Vilas
Olímpicas Municipais estejam com as pistas em estado precário.
As velocistas Rosângela Santos e Evelyn dos Santos, Geysa Arcanjo, do
arremesso de peso, e Diego Hypólito, da ginástica artística, são alguns
dos atletas olímpicos que tiveram que sair do Rio para conseguir manter
o bom rendimento. Alguns estão, inclusive, em outros países. O anúncio
do Rio como sede das Olimpíadas 2016 também não foi bom negócio para os
ciclistas do Rio, na opinião do presidente da Federação de Ciclismo do
Rio de Janeiro, Cláudio Santos.
As autoridades fluminenses eliminaram qualquer possibilidade de
desenvolver o ciclismo de pista, modalidade olímpica, com a demolição do
único velódromo do Rio e do autódromo, opinou ele. “A Inglaterra ganhou
na última olimpíada no ciclismo mais medalhas do que o Brasil em todas
as modalidades. Nos lugarejos há três velódromos em um só local. Aqui
tínhamos um só, que foi demolido por conta da especulação imobiliária,
aquilo virou um grande condomínio de luxo e o novo será construído ao
lado”, disse.
Segundo Santos, o número de mortes e atropelamentos de ciclistas
aumentou consideravelmente após as demolições. “As Áreas de Proteção aos
Ciclistas de Competição (APPCC) só foram criadas, por decreto, após a
morte do nosso triatleta de alto rendimento, Pedro Nicolay,
atropelado por um ônibus. Aqui, primeiro tem que acontecer uma
tragédia, para se criar uma situação mais segura, em vez de fazer as
coisas com antecedência”.
O governo do estado informou que o encerramento temporário das
atividades no Célio de Barros ocorreu mediante a negociação com a
Federação de Atletismo do Rio de Janeiro e os responsáveis pela
administração dos equipamentos esportivos para onde foram encaminhados
os cerca de 500 alunos e atletas. O governo informou ainda que o estádio
será reformado após o término dos Jogos e que no momento analisa o
pedido de reequilíbrio financeiro enviado pela Concessionária Maracanã,
responsável pelas obras. O governo não comentou o fato de o Engenhão
estar parcialmente interditado para treino. Foram citados outros locais
de treinamento como a Vila Olímpica do Mato Alto, Centro Esportivo
Miécimo da Silva, Vila Olímpica da Mangueira, Comissão de Desportos da
Aeronáutica e Escola de Educação Física do Exército. O governo não
comentou as críticas feitas sobre as condições físicas desses espaços.
Sobre a falta de locais para as delegações estrangeiras treinarem, o
governo informou que foram disponibilizados 172 centros de treinamento
pelo Brasil, com o objetivo de nacionalizar os Jogos, engajar todos os
brasileiros por meio da aproximação com esses atletas e “possibilitar
que o evento contribua para o desenvolvimento da economia de outras
regiões do Brasil, e não apenas do Rio de Janeiro”.
A prefeitura foi procurada e, até o fechamento desta matéria, não se
pronunciou sobre as críticas feitas pelos atletas e entidades.
Autor: Jonathan Cavacante
Editor José Romildo
criado em 05/08/15 09h11
e atualizado em 05/08/15 10h09
Por Flávia Villela - Repórter da Agência Brasil
Edição:José Romildo
Fonte:Agência Brasil
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